quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Vou-me embora... (pauloPioner)

"Vou-me embora pra Passárgada",
a Passárgada que escolhi,
a Passárgada que inventei,
que não é a mesma de Bandeira,
que é a Aldeia do meu sonho,
que não tem rei algum,
la não existe ter,
não existe meu, nem teu,
nem minha , nem tua,
as mulheres se banham nuas,
nos chafarizes das praças,
e a gente ri de graça,
da graça de qualquer coisa.
"Vou-me embora pra Passárgada,
aqui eu não sou feliz"
na minha aldeia,
não existe mau pensamento,
não existe sentimento ruim,
tudo que se faz é sempre o bem,
porque só assim os corações entendem,
não se perdoa nada,
pois a nada é preciso perdoar,
tudo é dito e feito com pureza,
entendido e recebido com leveza,
não há entrelinhas,
nunca se ouviu falar em mesquinharias,
e essa palavra sequer existe,
o sorriso é o sol desta aldeia,
a tudo ilumina,
a todos transparece,
"Vou-me embora pra passárgada"
lá as bebedeiras não tem ressaca,
se cantam as luas cheias e quartos de lua
e cantam-se minguantes, se encantam novas,
das varandas,
os acordes soam inteiros
e invadem as madrugadas cheias,
dos corações doidos,
doidos de amar,
o único amor que existirá,
um dia,
sim...existirá,
as vozes entoam hinos á vida
e a vida é plena de alegria,
não há passado ou futuro,
tampouco o conceito de tempo há,
nada é de ninguém,
e tudo é de todos.
"Vou-me embora pra Passárgada"
vou montado no último raio de sol do verão,
vou ao encontro da primeira brisa outonal,
que este hiato,
entre um e outro,
é a porta que leva a aldeia
onde não há encenação qualquer,
de farsas, tragédias, comédias,
onde as árvores das verdades são cultivadas,
todas, com sementes de sinceridade,
vou como folha que se desprende,
de tudo quanto havia até agora,
e agora se faz outro agora
em que sou folha solta ao vento,
entre a vertigem veloz da queda,
e o torpor inebriante do planar da pluma,
como a morte que se faz vida,
a vida que se faz morte,
como a morte que gera a vida,
como a vida que gera a morte,
vida e morte,
tão iguais
como mesmo,
contínuo,
sempre novo...
e antigo...
maravilhoso...
infinito...
ciclo

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