tanto...e tão pouco (pauloPioner)
ha tanto...
e tão pouco
ja não arde a pele ao fogo,
ja não há temor pela fogueira,
bruxas, bruxos,
feiticeiros e feiticeiras,
seres de outra dimensão,
minha dimensão,
meu mundo,
meu chão,
elegia pagã,
de um poeta pagão,
nem isso,
nenhuma história é a minha,
nenhum ideal é o meu,
nenhuma doutrina ou religião,
só o nada, o vazio,
um ex deus na solidão,
uma divindade desempregada,
um santo sem perdão,
um anjo embriagado,
num prostíbulo cristão,
sinais e luzes que piscam,
estrelas que caem,
riscos num céu de giz,
ensinamentos que nada valem,
aprendizado que não valeu,
só mentira e interesse,
só discórdia e desilusão,
quem mandou acreditar nos humanos,
quem mandou acreditar no verão,
quem sabe de mim sou eu,
e eu não sei de mim não,
nenhum cobertor para o frio,
nenhum pedaço de pão,
devaneio, livro pelo meio,
vida jogada fora,
tempo gasto sem razão,
música que ninguém canta,
dança que ninguem dança,
a Rainha perguntou,
se era verdade ou mentira,
e ninguém teve coragem de responder,
e a Rainha se jogou do alto da torre,
para acordar a Aldeia,
somente o tolo acudiu,
bobo da corte,
tolo sem sorte,
devem pensar os de em volta,
que passam e fazem de conta,
que lamentam,
e viram as costas,
jogo de cartas marcadas,
jogo de contas de vidro,
quem leu?
eu não,
anoitece,
anoitece em meu coração,
não a noite plena de estrelas,
não a noite serena das varandas,
não a noite em volta do fogo,
não a noite da dança na praia,
da lua na areia,
"do lençol de cambraia"
apenas anoitece a escuridão,
sem lua,
sem tua aparição,
noite de negra tormenta,
de tormento atroz,
de escuro profundo,
no fundo de nós,
como quem submerge num mar sem fundo,
no mar do fim do mundo,
eterna queda,
sem esperança de parar,
desespero,
o planeta vai explodir,
e um silêncio tão denso,
tão denso,
que posso ouvir o que penso,
e havia tanto...parecia,
para colher no pomar,
e havia tanta risada,
e música... e dança... no bar,
ledo engano
fim do ano,
fim de festa,
espio pela fresta,
da porta do não voltar
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