domingo, 8 de junho de 2008

Final...?

assim finalizo...pela enésima vez, que pode ainda não ser a última,
a segunda parte do livro aberto "Apenas? Poesia...
são poemas e escritos remanescentes, sobreviventes ao tempo, do menino
muitos se perderam (alguns a gente vai encontrando)
mas não faz mal, assim podem ser escritos de novo
e melhor, serão inéditos

ficamos com um poema de Quintana, (meu preferido)

não olhe para os lados
seja um poema, uma tela, o o que for
não procure ser diferente
o segredo único esta em ser
indiferente

até novas postagens, inéditas, 2008

O menino e o dia

uma noite indo para casa
tarde da noite, quase madrugada
encontrei um menino
desses que a gente encontra na rua todo dia
que ficam nas sinaleiras pedindo esmola
que ficam pelos bares, nas lancherias
esperando alguma migalha
e fica pedindo dinheiro
pedindo um copo de refrigerante
um pedaço de cachorro quente
qualquer coisa
ele me veio, apareceu não sei de onde
e foi caminhando ao meu lado
de repente me perguntou
se faltava muito para ser dia
aí eu respondi pra ele que faltava
que era meia noite, uma hora da madrugada
que faltavam cinco, seis horas aproximadamente
para que fosse dia, para que amanhecesse
caminhamos mais um pouco e ele sempre do meu lado
perguntei algumas coisas pra ele
me respondeu
mas uns quinze minutos depois
ele voltou a mesma pergunta
se faltava muito pra ser dia
me perguntou porque demorava tanto
...porque demorava tanto...não sei
de repente como veio foi embora
dobrou em alguma esquina
entrou em alguma rua, sei lá
não lembro direito
e eu fiquei pensando na mesma coisa
que o cara tinha me falado
o que ele havia me dito antes
se vale a pena lutar
de que adianta ter boa vontade
pra que?
se tudo continua igual depois
ou não continua?
ou a gente muda
mesmo que seja assim, muito pouco
um algo que nem se sinta
uma coisa que perto de uma vida
talvez não signifique quase nada
então pra que tudo isso?
pra que esse sonho todo?
pra que esta esperança toda?
pois é...pra que...
"que noite,
que lua,
meu bem...
pra que?"
...a noite...
a noite existe pra que depois haja dia
para que amanheça
a noite seria a mãe do dia
quem sabe?
mas porque demora tanto amanhecer
porque demora tanto esse dia
porque aquele menino perguntava tão insistentemente
quanto faltava para ser dia
a que dia ele se referia?
ao dia...
que dia?
amanhã?
amanhã...
porque demora tanto o dia?
porque demora tanto chegar esse dia?
porque demora tanto a nossa vitória?
a vitória do sorriso, do amor
da compreensão, da justiça...

"meu amigo a vitória é demorada
mas a gente não pode descansar
é preciso usar com muita calma
os momentos que vida emprestar

no trabalho e no canto vê se sempre
carrega contigo teu amor
um abraço e um beijo são vitórias
te agarra nas mãos da rebeldia
e verás o teu povo levantar!

acredita no tempo em que o mate
só é dado com a mão do coração
onde um homem que é homem de verdade
não precisa brigar pra dar lição

pelas ruas e bares da cidade
carrega contigo teu amor
um sorriso trocado é uma vitória
carrega a bandeira da alegria
e verás o teu povo levantar!

planta noite e dia
dentro do teu peito, irmão
todas as verdades
que esse é o nosso jeito de vencer..."

(Noite e dia - Vitor Ramil)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

As pessoas são mais bonitas que os automóveis...

_as pessoas são mais bonitas que os automóveis...
foi isso que ele me disse
ele tinha duas fogueiras nos olhos
ele tinha assim uma pele
marcada, queimada de sol, de muito sol
de muito caminhar
mas tinha um rosto sem idade
era uma fúria serena
era alguma coisa que realmente chamava atenção
_as pessoas são mais bonitas que os automóveis...
é, foi isso que ele me disse
e depois, ele me disse mais
ele disse:
_companheiro
lutei, lutei muito
sonhei, sonhei demais
segui meu sonho
e lutei em mil batalhas
em mil batalhas fui derrotado
em mil batalhas fui ferido
sangrei
me fizeram prisioneiro
me torturaram
em mil batalhas fui traído
em mil batalhas fui abandonado
e a cada batalha
e a cada dor
a dor se fazia maior
e a cada morte
esta se fazia mais sofrida
até que eu não tivesse mais dor para experimentar
até que meu corpo estivesse destruído, dilacerado
até que meus pedaços se espalhassem pelo chão
e nem aí meus inimigos me pouparam
eles juntaram meus pedaços
eles me queimaram
e eles jogaram minhas cinzas no vento
para que nem mais cinzas houvesse
e aí
exatamente aí
eu ja não existia mais
eu ja não era mais
eu ja não tinha mais nada
exatamente aí
que eu vi surgir um vulto
um vulto envolto em muita luz
luz, luz, luz
e eu não conseguia ver quem era
não
eu só sei que era muito bom ver aquilo
e ele foi
foi ou veio
ia ou vinha, sei lá
ia em minha direção
vinha em minha direção
eu estava em todos os lugares
eu não era nada
eu era o vento
sei lá
eu sei que quando pude ver o seu rosto
eu o reconheci
sim, eu ja o havia visto antes
...no espelho
aquele ser que vinha
aquela coisa divina
era eu
e eu não compreendi
não compreendi
...ele me sorriu
e quando eu pensei ja havia me livrado de todas as dores
que aquele sorriso significava
o abrir de portas para alguma coisa melhor
significava uma vitória ou qualquer coisa assim
eu me vi novamente em corpo, em carne, em espírito
eu me vi nele
ele era eu
eu estava nele
e eu me vi novamente no meio do campo
no meio do campo de batalha
pra lutar mais mil batalhas
pra perder mais mil batalhas
pra experimentar mais mil dores
pra começar tudo de novo
aí eu fechei os olhos
aí eu me sentei na calçada
aí eu pensei
porque?
pra que?
depois disso tudo
não esta tudo igual?
não continua tudo igual?
igual, igual, igual
de que adiantaram tantas dores?
de que adiantaram todos os sacrifícios?
de que adiantou morrer tantas vezes?
se aqui eu tenho que recomeçar tudo de novo
pra que tudo isso?
adianta alguma coisa?
daí eu lembrei daquela canção do chico...
"...esse pileque homérico do mundo
de que adianta ter boa vontade
mesmo calado o peito resta a cuca
dos bêbados do centro da cidade..."

A hora é chegada

pois a hora é chegada
de gritar pela vida
de atender o chamado da esperança
de riscar versos pra ti
nos muros, nos sonhos, nos azuis
em qualquer sorriso
em todo lugar
de acoordoar as violas
de acordear pela paz
saiba, a espera nunca foi vã
nem foi por nada
que tantos lutaram
que tantos morreram
e que tantos outros ainda vivem
resistem, insistem
desabrochar afinal
flor cálida
abrir-se completamente
em paixão sincera
"sair do ovo
destruir um mundo
voar para deus"
ser em mim, em ti, em todos
finalmente
o que tanto se guardou

Avivar

vinda de quando
pousada no onde
uma semente
gota de vida
germina
como grão de luz
brotando do ventre da terra
feto de chuva e sol
inventando uma criação
brincando de deus e mulher
a florescer
no coração
um brilho de avivar

de semeaduras e colheitas (O sorriso)

e houve o dia
em que nos olhos do menino
o sol encontrou o campo de trigo maduro
e um homem que sorria
e compreendeu naquele sorriso
que a justiça desabrochara
que a liberdade florescera
que todas as culturas frutificavam
e todos os homens eram iguais
houvera antes
muitas semeaduras
muitos campos maduros
muitas colheitas
mas nunca...
nunca um sorriso como aquele

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Luz própria

As estrelas são vivas
viver é ter luz própria...
"e o que brilha com luz própria
nada lhe pode apagar
seu brilho pode alcançar
a escuridão de outras costas
ja foi lançada uma estrela
pra quem quiser enxergar
pra quem quiser alcançar
e andar abraçado nela"
...a todos estes astros de luz própria
que embora extinguindo-os
os senhores da noite
não conseguem apaga-los
sua luz continua a chegar-nos
cada vez mais forte
até inundar de claridade toda a treva
a todas essas pessoas de brilho único
que embora assassinando-as
os detentores do poder
não conseguem destrui-las
pois suas idéias continuam a embalar-nos
cada vez mais claras
até libertarem toda humanidade da opressão
a todos, de quantas eras hajam havido
que de alguma forma buscaram a luz
a todos que lutaram pela salvação e libertação do homem
a todos que foram cricificados ou fuzilados
procurando pela justiça
nesta noite
e sempre
um pensamento nosso!