segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Negrinho

(letra de milonga inscrita em festival de música nativista do Rio Grande do Sul)

negrinho, ah meu negrinho
do sem tempo, sem lugar
tu que vieste cavalgando
um baio raio de luar

vindo da lenda pampeana
no estribo de tua tenência
campeaste minh'alma haragana
desgarrada da querência

até esqueci de minha história
por este andejar a esmo
perdido de minha origem
extraviado de mim mesmo

mas foi numa tertúlia
na volta de um fogo de chão
a canha ganhava a roda
passava de mão em mão
a cordeona e a guitarra
vai milonga e vanerão
o carreteiro de charque
charla e causos de galpão
a imponência do taura
o riso largado do peão
o orgulho por ser crioulo
por ser cria deste chão

eu que vinha da cidade
não conhecia a tradição
eu não existia negrinho
nasci naquele fogão

o assovio do minuano
entranhou dentro de mim
não esqueço aquela noite
noite de estrelas sem fim

sem fim o enorme silêncio
a própria voz da imensidão
a contar-me o que eu não sabia
que trazia no coração

negrinho, ah meu negrinho
do sem tempo, sem lugar
tu que vieste cavalgando
um baio raio de luar
negrinho, ah meu negrinho
quisera fazer-te oração
mas não sei rezar negrinho
então fiz esta canção
como se fosse uma vela
que acendesse pra ti
pra que ilumines a alma
de outros tantos por aí

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