sábado, 8 de fevereiro de 2014

Eu conheci um menino,
a infância brincando sozinho,
quase não tinha amigos,
andava só pelo caminho.
De casa pra escola,
da escola pra casa,
seus pais não o deixavam sair,
era um pássaro sem asa.
Então criava seu mundo,
no quintal de onde morava,
com pedaços de pedra,
de tudo um pouco inventava,
eram mocinhos, indios, bandidos,
soldados e cavalos galantes,
fazia estádios e circos,
com galho seco e barbante.
Jogava futebol sendo os dois times
no corredor lateral de entrada,
menino de portão pra dentro,
olhava de longe a estrada,
E desse jeito foi crescendo,
um dia seu pai foi embora,
ficou ele e sua mãe,
sem casa, sem renda, e agora?
De casa em casa de parentes
de mala e cuia, cuia e mala,
ele não podia deixar de ouvir,
as conversas que vinham da sala,
pra sua mãe dar um jeito,
de arrumar onde morar,
sem outra opção, muito cedo,
começou a trabalhar.
Sua mãe só tinha a ele,
toda responsabilidade,
na escola era o esquisito,
um a mais nessa cidade.
Pouco a pouco criou escudos,
uma couraça como defesa,
pouco dinheiro, tudo controlado,
pra não faltar o que por à mesa.
A opção era pelo seguro,
não tinha direito a sonhar,
mesmo assim sonhava muito,
mas não podia realizar,
sempre adiando o futuro,
em nome da sobrevivência,
cuidar bem de sua mãe,
era a sua incumbência.
Assim transcorreu a vida,
quase nunca dizendo não,
cedendo sempre a sua parte,
adiando planos e ação.
Com o tempo a couraça
se tornou invulnerável
e ele fazia de conta
que estava confortável,
que era isso o que queria,
que o resto não importava,
se tornou impenetrável.
Imune aos sentimentos,
não corria riscos por nada,
nada mais o tocava,
nem carícia, nem porrada.
E foi ficando invisível,
a tudo quanto o rodeava,
afastando-se pouco a pouco,
daquilo que ameaçava,
a suposta paz e calma,
no abrigo seguro do casulo,
no mundo perfeito do ovo,
no vazio de sua alma,
até que um dia uma mulher,
em olhos brilhantes e sorriso aberto,
feito um raio explode a couraça,
estilhaça a casca do ovo,
e o casulo despedaça ...
ainda hoje eu vi o menino,
anda de novo por aí ...
ele passou e me disse
"confesso que não vivi"
disse ainda que acredita,
como quem tem o mundo por ver,
que alguém algum dia
"vai me ensinar a viver!"



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